Perder o emprego, o relacionamento ou a própria moral
perante a opinião pública são algumas das consequências decorrentes de rompantes
–ataques de raiva que podem levar pessoas sãs a cometerem verdadeiras loucuras.
O rompante é uma resposta explosiva e desmedida diante de um fato. Entre as
celebridades, é comum ouvir falar de alguém que agrediu fotógrafos, gritou com
jornalistas, se desentendeu com algum colega, falou mais do que deveria. E,
muitas vezes, o caso vai parar na Justiça, resultando em custosas indenizações.
"Primeiro, é preciso diferenciar o que seria uma reação explosiva normal
daquilo que é patológico", afirma o psicólogo e pesquisador José Roberto
Leite, coordenador da Unidade de Medicina Comportamental da Unifesp
(Universidade Federal de São Paulo). Quando um indivíduo tem certos objetivos
que não são atingidos, é natural sentir-se frustrado. Mas há diferentes maneiras
de lidar com essas frustrações: ser acometido pelo sentimento de decepção, que
não teria implicações sérias, e o da agressividade, que não necessariamente se
manifesta, podendo emergir como sensação de raiva –algo mais introspectivo e
controlado– ou como atitudes agressivas. Para o psicólogo, a diferença está em
que a decepção é uma reação mais passiva. Já a raiva pode manifestar-se em
comportamento ou sentimento (ambos, no entanto, considerados normais). Contudo,
a características patológicas se revela quando a reação é desproporcional ao
fato, indicando doenças psiquiatras ou transtornos de humor. Portanto, a reação
explosiva, sem que tenha havido um estímulo significativo, precisa ser
investigada. Ampliar Relembre alguns dos rompantes protagonizados por famosos10
fotos 7 / 10 Em 2007, a modelo britânica Naomi Campbell foi condenada por
agressão a cinco dias de trabalhos comunitários por ter jogado um telefone
celular em sua empregada doméstica Ana Scolavino. Ela também foi ordenada a
assistir a um curso de dois dias para evitar acessos de raiva e pagar 350
dólares à agredida. Mas se Campbell não tivesse admitido a culpa, o caso teria
ido a julgamento e a modelo correria o risco de ser condenada por agressão em
segundo grau Leia mais Mesmo quando reagir com raiva é previsível e
justificável, no entanto, reações agressivas nunca são positivas. "A
explosão é sempre ruim para aquele que explode", afirma a psicanalista e
escritora Betty Milan. De acordo com ela, não é possível saber, de forma genérica,
quando rompantes de raiva se darão: "Às vezes um 'nadinha' desencadeia o
comportamento; outras, algo muito significativo. O limite de cada pessoa é
determinado por suas histórias individuais e familiares”. De acordo com o
advogado Sérgio D’Antino, que tem como clientes alguns famosos, a pessoa pode
perder a noção do que é certo e do que é errado. As consequências são aquelas
previstas pelo Código Penal Brasileiro, quando a fúria conduz ao cometimento de
um crime, lesão corporal, calúnia, difamação ou injúria. "E a lei não
diferencia se o agente agressor é pessoa pública ou não", diz o advogado.
A diferença é que, quando o escândalo envolve celebridades, a repercussão na
imprensa é grande. Rompantes de raiva são, contudo, fatos frequentes na esfera
privada, e todos os dias ocorrem crimes dos quais nem se fica sabendo.
"Quando o caso é de pessoa pública, os tribunais têm entendido que a
ofensa à integridade moral ou privacidade da vítima é ainda maior", diz
D’Antino. Isso ocorre pelo fato de a celebridade ter sua imagem como um
instrumento essencial de trabalho. Assim, as indenizações podem chegar aos
milhões de reais. Da emoção ao rompante Para a psicologia, a raiva é uma emoção
produzida sempre que o indivíduo se depara com um obstáculo ou alguma
resistência externa à realização de algo que anseia ou necessita. "É uma
reação natural, automática, que aparece sempre que o ser humano se sente
ameaçado", define o psicoterapeuta George Vittorio Szenészi, do Instituto
Metaprocessos. Mas a raiva pode se tornar um problema quando o indivíduo vive
em um meio onde não pode demonstrar esse tipo de reação. "Quando não
vividas, essas emoções negativas se acumulam ao longo do tempo, até que, num
determinado momento, ocorre um fato específico em que tudo isso vem à tona de uma
vez só. É a conhecida 'gota d’água'", explica George. Por isso, é
importante compreender onde estão os bloqueios que nos impedem de expressar
naturalmente as emoções, superando-os e aprendendo a expressá-las de uma forma
que não seja comprometedora, pois represar insatisfações leva a ataques de
raiva no futuro. Dá para evitar? Rompantes também podem ser decorrentes de
flutuações hormonais, neuroquímicas ou da tensão cotidiana –e quem tem os
nervos à flor da pele poderá explodir na hora errada com maior facilidade.
Outros quadros são oriundos de pouca capacidade de lidar com as frustrações.
Nos casos de doenças psiquiátricas, o tratamento poderá ser medicamentoso e/ou
realizado com acompanhamento psicológico, dependendo da gravidade do caso.
Alternativas como a meditação e atividades físicas também surtem efeito sobre o
comportamento das pessoas. Segundo Betty Milan, quem se debruça sobre a própria
história e se conhece bem, consegue conter os rompantes. "Mas isso dá
trabalho", diz ela. A psicologia comportamental admite que nos casos de
reações normais diante de estresse, ansiedade ou estado de alerta muito
intenso, é preciso redobrar atenção sobre o controle desses fatores, para que
respostas não se transformem em violências desenfreadas e prejuízos morais e econômicos.
"Nem chamo isso de procedimento de terapia, mas de um treinamento em
gestão de vida", afirma José Roberto Leite. "Nossas emoções
constituem apenas mais uma das grandes áreas da vida que temos de gerenciar.
Para isso, é preciso manifestar sentimentos com clareza e maturidade, de forma
adequada".
Fonte Internet noticias.bol.uol.com.br/entretenimento/2013/02/07
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