Você
cansou de ouvir que tomar sol sem usar protetor é algo que está fora de
cogitação, ainda mais num país em que o câncer de pele é o mais prevalente na
população. Mas para o médico americano Michael Holick, professor da
Universidade de Boston, alguns minutos sob o sol sem proteção pode prevenir
males crônicos como diabetes tipo 1, doenças cardíacas, esclerose múltipla,
obesidade e alzheimer, entre outros.
Holick
veio ao Brasil participar do 17º Congresso Paulista de Obstetrícia e
Ginecologia, em São Paulo e acaba de lançar, aqui, o livro “Vitamina D – Como
um tratamento tão simples pode reverter doenças tão importantes” (Ed.
Fundamento).
“Estudos
mostram que o protetor solar é capaz de reduzir em 98% a síntese de vitamina
D”, alega o médico. O sol é a principal fonte do nutriente (para se ter uma
ideia, 100 g de salmão fresco fornece de 600 a 1.000 unidades de vitamina D; já
5 a 10 minutos de exposição aos raios solares fornecem 3.000 unidades). E o
horário que garante a síntese adequada é justamente o que mais expõe as pessoas
ao câncer: das 11h às 15h.
Câncer de
pele
As
teorias de Holick geram arrepios nos dermatologistas. “As recomendações dele
são um risco para a saúde pública”, alerta o médico Sérgio Schalka, membro da
Sociedade Brasileira de Dermatologia e especialista em fotoproteção. Ele diz
que o protetor solar não impede a síntese de vitamina D por completo, “ainda
mais considerando que as pessoas usam uma quantidade bem menor que a
recomendada”.
Em seu
livro, Holick traz uma tabela que define a exposição segura de acordo com o
tipo de pele, a localização geográfica e a estação do ano. Uma pessoa de pele
extremamente clara, que vive em país tropical, por exemplo, poderia ficar de 3
a 5 minutos sob o sol sem proteção entre 11h e 15h. Já alguém que se bronzeia
facilmente poderia ficar de 10 a 15 minutos. E pessoas de pele negra, de 15 a
20 minutos.
Um banho
de sol como o recomendado acima, de duas a três vezes por semana, seria o
suficiente para garantir níveis saudáveis de vitamina D, segundo o americano.
Melhor ainda se a pessoa estiver com braços e pernas expostos. Já se o dia
estiver muito nublado, a absorção fica comprometida.
Para
Schalka, não é possível estimar qual a quantidade de exposição segura
para evitar o câncer de pele. E os casos da doença aumentam a cada ano em
níveis alarmantes. Por isso a recomendação, tanto aqui quanto nos EUA, é a de
evitar por completo se expor entre 11h e 15h sem proteção.
Questionado
sobre possíveis críticas de dermatologistas, Holick responde que, nos EUA, a
recomendação da classe médica ainda é a de evitar qualquer quantidade de sol
nos horários de pico sem a devida proteção. “Já na Austrália, por exemplo,
médicos mais jovens hoje já consideram que essa recomendação é radical demais”,
argumenta.
Deficiência
Você pode
achar que a preocupação com a vitamina D não faz sentido no Brasil, um país
ensolarado, mas não é bem assim. Uma pesquisa realizada em 2010 e publicada no
periódico Clinical Nutrition mostrou que, em São Paulo, quase 78% da
população de 18 a 90 anos apresenta deficiência de vitamina D ao final do
inverno. Depois do verão, o índice cai para 37%, mas ainda é considerado alto.
O
professor conta ainda que, na Austrália, país com maior incidência de câncer de
pele no mundo, 40% das pessoas têm deficiência de vitamina D.
“Antigamente as pessoas passavam mais tempo ao ar livre, principalmente
as crianças”, alertando para o fato de que hoje o confinamento é muito maior.
Mais
conhecido por auxiliar o organismo na absorção do cálcio, evitando problemas
como raquitismo (em crianças) e osteoporose (em adultos), o nutriente hoje tem
sido associado a uma série de outros benefícios, como a prevenção ao diabetes
tipo 1, à esclerose múltipla e ao Alzheimer, entre outros.
Holick
relata que a vitamina melhora o fluxo sanguíneo, por isso diminui o risco de
doenças cardíacas e hipertensão, tem papel importante no sistema imunológico e
também ajuda na liberação de serotonina, diminuindo sintomas de depressão,
fibromialgia e fadiga crônica. Só para citar algumas vantagens.
Suplemento
Embora a
suplementação de vitamina D em bebês seja padrão em diversos países, inclusive
o Brasil, o especialista diz que a quantidade ainda está abaixo do ideal. “Na
década de 1940, a produção de vitamina D era muito cara, então ficou
determinado que 100 unidades diárias já seriam suficientes para prevenir o raquitismo
em bebês, mas essa quantidade pode não ser suficiente para evitar doenças
crônicas”, explica.
A
recomendação do médico para ingestão a partir de suplementos é de 400 unidades
diárias para os recém-nascidos e de 2.000 a 4.000 para as mães que amamentam.
Para crianças de 1 a 12 anos, de 1.000 a 2.000 unidades diárias. De 13 anos em
diante, de 1.500 a 2.000. Já obesos devem consumir duas a três vezes mais: “As
células de gordura absorvem a vitamina D e impedem que ela se espalhe para o
corpo”, justifica.
Estudos
recentes têm chamado a atenção para os riscos do exagero no consumo de
vitaminas. Não seria o caso de ter cautela também com a D? Holick esclarece que
ingerir grandes quantidades do nutriente por tempo prolongado pode levar à
calcificação dos vasos e até dos rins, o que é fatal.
“Mas a
intoxicação por vitamina D é uma das condições mais raras do mundo”, garante o
médico. A dose máxima permitida para a suplementação de bebês, segundo ele, é
de 2.000 unidades diárias, de 5.000 para crianças e de 10.000 para adultos.
Para o
dermatologista Sérgio Schalka, a suplementação deveria ser considerada apenas
para bebês (como já acontece hoje) e idosos, que quase não sintetizam vitamina
D. Ou em casos comprovados (por exames) de deficiência.
Já Holick
acredita que fazer a dosagem do nutriente pode nem ser necessária – com risco
baixo de intoxicação e chance alta de deficiência, seria mais eficiente, em
termos de custo-benefício, indicar logo a suplementação.
Ouvir o
professor de Boston enumerar tantas vantagens em relação à vitamina D pode até
gerar a tentação de relaxar um pouco no uso do protetor solar. Mas é melhor
esperar que as sociedades médicas repitam o que ele diz, o que, aparentemente,
ainda está longe de acontecer. E não tomar suplementos sem recomendação médica.
Fonte
Internet Do UOL, em São Paulo
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